segunda-feira, 19 de julho de 2010

Viva la Vida - Coldplay

One minute I held the key
Em um minuto eu detinha a chave
Next the walls were close on me
No outro as paredes se fechavam contra mim
And discovered that my castles stand
E eu descobri, que meus castelos de apoiavam
Uppon pillars of salt and pillars of sand
Sobre pilares de sal e pilares de areia


   Quem diria, a tão sonhada formatura está chegando e estou uma pilha de nervos por conta disso. Mas não é só a ansiedade em ver o vestido dos meus sonhos pronto, nem de receber o canudo, nem pelo baile, nada disso se compara a tristeza de ver que apesar de tudo ter acontecido igual, foi tudo tão diferente.
   Eu sonhei tanto com essa data, sonhei tanto com essa despedida, sonhei tanto com o retorno. Mas agora ouvindo a música que eu escolhi para minha formatura, percebo que é realmente isso, em um minuto eu tinha tudo nas mãos, na outra me senti a pessoa mais desamparada do mundo. Minha fortaleza caiu, meu porto seguro ruiu e eu ainda tinha que segurar as arestas de uma grande muralha em ruínas, meu pai. Mas tudo aconteceu, os meses passaram, a vida seguiu e eu descobri que meu castelo estava construído sobre pilares de sal e areia, o vento foi levando pouco a pouco minha base, a chuva derreteu o sal e eu fiquei só com o que sobrou. E eu percebi que restou muito, restou minha família, restaram meus grandes amigos e uma vontade louca de mudar e seguir em frente. Conheci tanta gente, conheci pessoas muito especiais e me sinto muito mal por não conseguir amá-las como merecem e precisam.
   Acabei virando minha própria fortaleza, é na minha força que me apoio, é na minha capacidade que acredito. Mas me tornei mais dura, mais impenetrável e estou sofrendo por não conseguir fazer alguém feliz tanto quanto eu queria conseguir. Queria poder reiniciar meu coração e minha memória, mas infelizmente não sou um robô, não digo as coisas por telefone, não mando recado e me importo com os sentimentos alheios.
  Eu queria um remédio para acabar com tudo isso, algo melhor que o tempo, algo melhor que o esquecimento.

Dias cinzas em palavras mal escritas

“Nunca mais abro a janela do meu quarto num dia cinza. Sei que o sol fica dormindo atrás das nuvens, não ilumina. Nem penso muito no que pode acontecer enquanto arrumo, todas as coisas que eu sinto, o meu passado e o meu destino.” Acústicos e Valvulados


   E como tem feito dias cinzas ultimamente, mas ao contrário do que diz a música, eu insisto em abrir as janelas, deixar o ar frio e cinzento entrar e congelar alguns momentos, alguns pensamentos. Queria mesmo era poder congelar alguns sentimentos, algumas angústias e sensações. Queria congelar um amor para usá-lo só na hora certa, mas e quando seria essa hora? Congelar meu medo do dia 15 de agosto, para aproveitar melhor a noite do dia 14. Queria congelar a saudade de quem já se foi, de quem está longe e de quem por algum motivo saiu da minha vida. Mas infelizmente os dias cinzas só congelam a mim, o meu coração quente ajuda a minha alma a sobreviver, seguir em frente fingindo não sofrer.
   Dias gélidos, solitários. Paredes molhadas e o mofo querendo aparecer. Será que eu também vou mofar? Será que eu vou acabar sentada sozinha em um banco da praça lendo o jornal de cabeça para baixo? Acho que dias cinzas alteram minha sanidade.
   Lembrei agora de um termo que um grande amigo de Sampa me ensinou: mafofa. Dias cinzas são o símbolo da mafofa: cama, cobertores, televisão, comida e solidão. Ah,essa solidão. Por vezes acho que ela me escolheu, mas quase sempre me convenço de que fui eu que quis assim. Saudade de casa, da mãe gritando qualquer coisa, do meu gato miando e minha cadelinha me pedindo atenção. Saudade das ruas movimentadas de Santa Maria, do calor de Natal, do sotaque de Minas Gerais. Saudade de tantos lugares que passei, de tantas pessoas que conheci, de tanta gente que amei! Ah, essa saudade! Coisas que só dias assim me fazem lembrar!

domingo, 18 de julho de 2010

Castelo de areia

Quando eu tinha uns 12 anos em um famigerado verão em Itapema, eu construí um enorme castelo de areia, daqueles que você passa a tarde toda sentado em volta. Comecei pela base, grande e forte. Fui construindo as paredes, uma a uma, para que ficassem exatamente como eu queria. Depois vieram as torres, altas, imponentes e enfeitadas com pingos de areia molhada, conseguidos depois de muito cavar até encontrar a água. Fiz um túnel, para a princesa poder fugir quando tivesse medo. Fiz janelas para que o sol entrasse e uma porta linda e grande para que os visitantes logo se sentissem bem vindos.
Terminado o castelo, passei a construção da fortaleza à sua volta. Muros altos, todos construídos com os mesmos pingos de areia, para que parecessem rochas quando secassem. Fiz a primeira camada, a segunda e a terceira, para que ficasse realmente parecida com os muros de um castelo. Depois de um longo trabalho lá estava ele, enorme, lindo e digno de uma princesa, corri para buscar alguém que o fotografasse, para mostrar como eu havia construído um castelo grande e insuperável. No retorno, o choque. Tão preocupada em deixar o castelo perfeito, não percebi que a maré subia e o mar se agitava. Foi como se as ondas tivessem esperado o castelo ficar pronto para então o tomarem de mim e carregar minha fortaleza com elas.
Restaram apenas as torres caídas, o túnel amolecido e a base do castelo. Tudo dragado pelo mar.
Quanta decepção, quanta raiva. Porque eu não percebi que estava construindo o castelo perto demais da água? Porque eu não voltei mais rápido, há tempo de tirar uma única foto que fosse?
Chorei, meu castelo tinha desmoronado e não havia tempo para reconstruí-lo. Eu não tinha forças para erguer novas torres e cavar novamente para obter a massa necessária para reconstruir a fortaleza.
Fui para casa inconsolável, tão inconsolável que nem sentia o calor em minhas costas. Tão entretida com meu lindo castelo esqueci de passar protetor solar novamente e não percebi que aos poucos o sol queimava minha pele. À noite veio a febre, a dor e as lágrimas. O creme hidratante parecia gelo enquanto minha mãe o espalhava delicadamente pelas minhas costas vermelhas, marcadas por um sinal branco deixado pelo biquíni preto de frutinhas que eu usava.
No outro dia enquanto todos foram a praia pela manhã, eu fiquei dormindo, à tarde fui de regata e fiquei embaixo do guarda-sol. E assim passei o restante das férias, indo para a praia de regata e embranquecida por tanto bloqueador solar. Nos últimos dias entrei na água, mas não pude retirar a regata branca que protegia minhas costas. Aquele pedaço de pano era a minha fortaleza agora, meu escudo. E é sempre preciso ter um escudo.
Prometi nunca mais construir um castelo de areia. Não adianta ele ter bases fortes, não adianta tanta dedicação, tanto esmero. Sempre vai vir uma onda e levar tudo com ela. Em mim só ficaram as marcas do sol que me observou todo o tempo, que me queimou para que eu lembrasse de me proteger antes de pensar somente na fortaleza da princesa e para que eu nunca mais esqueça que às vezes construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas, depois descobrimos que grandes eram os sonhos e as pessoas pequenas demais.

Sou do tempo...

Eu sou do tempo em o primeiro homem negro foi presidente do Estados Unidos, do tempo da discórdia e da falta de compostura. Eu sou parte de uma história ainda não imaginada, ainda não sonhada, que apenas vai acontecendo.


Sou de uma geração que tem os olhos enuviados pela poeira do 11 de setembro, que viu uma nação sucumbir ao medo fragilizante. Sou da geração da Guerra do Iraque, das lutas tecnológicas e do não amor.

Eu vi Lula ser finalmente eleito Presidente, e o Brasil crescer economicamente ofuscando a decadência da política brasileira. Pois sou do tempo em que a ética morreu. Sou da época do mensalão, do dinheiro nas cuecas e da ascensão da corrupção. Sou do tempo em que Collor voltou à política e o Malluf virou bom moço.

Sou da geração do Airton Senna, do Tafarel, dos Ronaldinhos e outros Imperadores da vergonha. Eu vi o Brasil ganhar a Copa do Mundo em 94, mas lembro mais da decepção de 98. Eu vi o brasileirinho cair junto com a Daiane dos Santos e o Internacional ser campeão de tudo.

Não sou da geração coca-cola, somos a geração Red Bull, freneticamente ligada e alienada ao mesmo tempo. Somos uma geração de futuros alcoólatras, pessoas que só tem histórias para contar através do álcool. Quem não bebe fica em casa, quem não bebe fica sozinho. Sou de uma geração embriagada pela intolerância, pelo consumismo e individualismo. Sou da geração sabe tudo, do Google. Sou informação e sou informada.

Sou do tempo das amizades virtuais, dos amores casuais e das fantasias reais. Sou da geração que tira fotos para o orkut e não para o álbum de família.

Eu vi os Mamonas Assassinas, a Lapada na Rachada e dancei o Tchan.

Pessoas em minha vida!

Hoje está fazendo muito frio aqui na minha pequena cidade, aqueles de 'renguear cusco' como diriam os bons gaúchos. Nada melhor que ficar em casa debaixo das cobertas num dia como esse. Foi aqui, no recanto do meu quarto, no meu relicário de pensamentos que comecei a refletir sobre mim, porque não? Afinal, ando numa linda fase de autoconhecimento, de redescoberta do meu ser.
É engraçado como o tempo e as pessoas às vezes fazem diferença nas nossas percepções sobre nós mesmos, há aquelas que nos fazem esquecer quem somos, quem fomos e há outras que nos mostram cada detalhe da nossa personalidade, que despertam todos os nossos sentimentos, dores, amores, gostos e desgostos! Foi assim que eu relembrei que amo cozinhar, que tenho o dom do desenho e da pintura e um amor incondicional por toda e qualquer arte. Foi um amigo gay que me fez perceber o quão livre de preconceitos eu sou e o quão distante da realidade em que vivo eu estou. Foi um olhar desconhecido que me fez perceber o quanto sou bela, um antigo amigo me lembrou que eu desenhava casas e batia nos meninos quando era criança.
Convivendo com o outro aprendi a conviver comigo mesma, com as minhas reações, delírios, desejos. Afinal, eu sei que sou alegre, falante, mas se não houver um receptor, não há conversa, se eu não fosse amante da leitura, não teria assunto.
Há sempre alguém pra me lembrar que eu não sou tão paciente quanto tenho tentado ser, que eu sou muito mais calma do que eu penso ser e que precisa me lembrar da minha capacidade para alcançar o que quero. Foi uma certa pessoinha que me lembrou que eu gosto muito de ver filmes, de comer chocolate, de dormir até bem tarde e que eu odeio que mexam nas minhas orelhas. Odeio mesmo! Hehe. Relembrei que é bom ter amigos, que beber não faz mal (apenas no dia seguinte) que rir é o maior remédio, que eu amo pintar as unhas e até recomecei minha coleção de esmaltes. E assim, através do outro eu me redescubro e me conheço todos os dias, me surpreendo e me apaixono a cada momento. “É bom recomeçar e poder contar com você!”

O retorno

Depois de um tempo sem blog, de um retiro espiritual e nada a declarar ao mundo virtual eis que eu voltei!!