domingo, 18 de julho de 2010

Castelo de areia

Quando eu tinha uns 12 anos em um famigerado verão em Itapema, eu construí um enorme castelo de areia, daqueles que você passa a tarde toda sentado em volta. Comecei pela base, grande e forte. Fui construindo as paredes, uma a uma, para que ficassem exatamente como eu queria. Depois vieram as torres, altas, imponentes e enfeitadas com pingos de areia molhada, conseguidos depois de muito cavar até encontrar a água. Fiz um túnel, para a princesa poder fugir quando tivesse medo. Fiz janelas para que o sol entrasse e uma porta linda e grande para que os visitantes logo se sentissem bem vindos.
Terminado o castelo, passei a construção da fortaleza à sua volta. Muros altos, todos construídos com os mesmos pingos de areia, para que parecessem rochas quando secassem. Fiz a primeira camada, a segunda e a terceira, para que ficasse realmente parecida com os muros de um castelo. Depois de um longo trabalho lá estava ele, enorme, lindo e digno de uma princesa, corri para buscar alguém que o fotografasse, para mostrar como eu havia construído um castelo grande e insuperável. No retorno, o choque. Tão preocupada em deixar o castelo perfeito, não percebi que a maré subia e o mar se agitava. Foi como se as ondas tivessem esperado o castelo ficar pronto para então o tomarem de mim e carregar minha fortaleza com elas.
Restaram apenas as torres caídas, o túnel amolecido e a base do castelo. Tudo dragado pelo mar.
Quanta decepção, quanta raiva. Porque eu não percebi que estava construindo o castelo perto demais da água? Porque eu não voltei mais rápido, há tempo de tirar uma única foto que fosse?
Chorei, meu castelo tinha desmoronado e não havia tempo para reconstruí-lo. Eu não tinha forças para erguer novas torres e cavar novamente para obter a massa necessária para reconstruir a fortaleza.
Fui para casa inconsolável, tão inconsolável que nem sentia o calor em minhas costas. Tão entretida com meu lindo castelo esqueci de passar protetor solar novamente e não percebi que aos poucos o sol queimava minha pele. À noite veio a febre, a dor e as lágrimas. O creme hidratante parecia gelo enquanto minha mãe o espalhava delicadamente pelas minhas costas vermelhas, marcadas por um sinal branco deixado pelo biquíni preto de frutinhas que eu usava.
No outro dia enquanto todos foram a praia pela manhã, eu fiquei dormindo, à tarde fui de regata e fiquei embaixo do guarda-sol. E assim passei o restante das férias, indo para a praia de regata e embranquecida por tanto bloqueador solar. Nos últimos dias entrei na água, mas não pude retirar a regata branca que protegia minhas costas. Aquele pedaço de pano era a minha fortaleza agora, meu escudo. E é sempre preciso ter um escudo.
Prometi nunca mais construir um castelo de areia. Não adianta ele ter bases fortes, não adianta tanta dedicação, tanto esmero. Sempre vai vir uma onda e levar tudo com ela. Em mim só ficaram as marcas do sol que me observou todo o tempo, que me queimou para que eu lembrasse de me proteger antes de pensar somente na fortaleza da princesa e para que eu nunca mais esqueça que às vezes construímos pequenos sonhos em cima de grandes pessoas, depois descobrimos que grandes eram os sonhos e as pessoas pequenas demais.

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