domingo, 26 de junho de 2011

Saudade



Dizem que saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. No meu caso é diferente, a minha saudade me diz para onde não retornar, quais caminhos não seguir, me lembra as dores eu já senti. Minha saudade é memória viva do que já se foi e não pode voltar. Minha saudade é memória viva do que eu já sofri. Caio Fernando de Abreu já disse: “Eu constantemente sinto saudade das coisas que perco, mas não as quero de volta. Já doeu uma vez.” E ainda dói, por isso é melhor seguir outros rumos, andar por outras terras, sentir outros gostos sem esquecer de onde vim para saber para onde não posso voltar.
Eu sempre fui assim, acho regressão voltar a trás. Se é pra seguir em frente que seja para evoluir, foi frustrante sair de Santa Bárbara do Sul aos 8 anos e ir para Saldanha Marinho, era regresso. Foi difícil sair de Santa Maria e ir para Frederico e quem diria, foi ruim sair de Frederico e ir para Santa Bárbara. Eu preciso de mais, eu mereço mais. É assim que eu sinto saudade. Sinto falta de pessoas que fizeram parte da minha vida, mas que não fazem mais parte dela. Sinto saudades apenas de quem um dia fez diferença. Da família, essa é covardia, eu sinto muita falta, mas sei que onde eu estiver os terei comigo, é diferente! É dolorido mas é confortante saber que se nada der certo eu terei sempre um abraço caloroso da minha mãe, um consolo do pai e o carinho dos irmãos.
Aos que torcem por mim, muito obrigado!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Das lágrimas que molham minha face agora

Eu sempre fui crítica demais com tudo e sempre fui muito criticada por isso. Sempre me cobrei demais pelos meus erros e cobro os erros alheios, não os admitoo com a facilidade com que gostaria que os meus fossem aceitos.  Isso cada vez mais me persegue. Cobranças, são tantas!
Eu cobro resultados, tento mover montanhas, tento mostrar que sou melhor, que consigo. Mas sinceramente tem sido fustrante não ser reconhecida. Não ouvir obrigada, bom trabalho, era isso que queríamos. Quando me pedem algo e eu consigo corresponder, aguardo ansiosa pelo reconhecimento daquilo, pelo sorriso de quem teve seu pedido atendido, mas até agora tudo que recebi foram críticas, as mesmas que eu insisto sempre em dar sem ninguém pedir. Talvez eu deva parar, percebo, finalmente, que não é bom ouvir apenas a parte ruim da história, a parte errada.
Depois eu começo a chorar, a me sentir a pior pessoa do mundo porque talvez ainda não tenha dado o meu melhor, ai vou lá e dou. O que muda? Nada!
Mas aos poucos muda algo em mim, aos poucos eu me reconheço, eu colo um "obrigado" no espelho, é para mim, sim, eu mereço, eu progredi e fiz a minha parte.
Essas lágrimas são fruto da minha mania de autoflagelação, quando estou triste me permito ir ao fundo do poço, afundar mesmo, chorar e pensar que o mundo está contra mim, que a vida é uma droga e eu não mereço tanta ingratidão. Sabe por quê? Quando a tristeza passa eu coloco um sorriso na cara, bem maquiado com um batom rosinha e digoo para mim: - Sua boba, olhe em volta, quanta maravilha te cerca!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Do jornalismo que eu nunca quis

Ah! Como de costume eu voltei quando estou na pior! Eu sempre tive alguns planos, sempre pensei grande, mas eu na verdade sempre fui pequena, uma sonhadora. Como diria meu querido Caio Fernando de Abreu: “Eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria salvar a minha vida, veja só que coisa mais individualista, elitista, capitalista, eu só queria era ser feliz cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz”.
Eu não culpo ninguém pelos maus momentos que tenho passado na minha vida, foram as minhas escolhas que me trouxeram até aqui. Mas eu não posso negar que o jornalismo e essa vida fudida de jornalista nunca estiveram nos meus planos. Foi uma consequência, meus pais quiseram, eu não soube fazer diferente, não fui forte pra desistir quando podia e acabei assumindo o status de jornalista por formação. Grande coisa. Na verdade, grande merda, ninguém dá valor pra um diploma que o Gilmar Mendez comparou ao de cozinheiros. E que eu nunca quis. Mas enfim, agora eu sou mais uma jornalista de vida lascada, que trabalha num jornal do interior onde os salários são ainda piores que nas capitais e onde ser jornalista ou não, pouco importa para os donos dos jornais.
Dizem que todo jornalista tem seu dia deprê e imagino que por essa vida tirana que tantos sejam fumantes e grandes apreciadores do bom e velho wiski. Eu não sou fumante e nem ingiro doses diárias de álcool (pelo menos ainda não), mas sempre tive a saúde fraca e essa vida lascada ta me deixando ainda mais frágil.
Eu passei cada vez mais a acreditar que o que sentimos reflete na nossa saúde, sim, eu vivo constantemente doente, tenho infecções urinárias que começaram a ser cada vez mais frequentes, como cada vez mais precariamente e só durmo tomando rivotril. Devem ser coisas comuns aos meus colegas de profissão.
Afinal, que profissão é essa que eu fui escolher? Se eu tinha tudo pra fazer qualquer outra coisa? Talvez a explicação seja a mesma para outra pergunta. Afinal porque eu, tão jovem, não largo tudo e mudo de profissão, faço o que sempre quis fazer e vou embora viver longe das tristezas interioranas e das ausências que aqui ficaram marcadas?
Alguém me diz porque diabos eu ainda não fui embora daqui? Porque eu me prendo num lugar que só me faz sofrer? Com gente que não valoriza meu esforço, não me dá méritos pelos meus resultados e nem muito obrigado sabe dizer?
Eu sou fraca, sou uma humana pequena a se arrepender, eternamente arrependida.

sexta-feira, 18 de março de 2011

No caminho das borboletas

Diz a parábola bíblica que o bom filho à casa torna. Pois bem, eu voltei! Depois de doze anos distante, muitas vezes nem tanto pois, Saldanha Marinho fica há poucos quilômetros, eu tornei a residir – em partes – na minha cidade natal, Santa Bárbara do Sul. Minha nova velha morada, meus velhos novos conhecidos e velhas novas histórias. É assim que me sinto.
Todos os dias eu me encaminho em direção ao meu trabalho, motivo pelo qual aqui estou, e revivo memórias da minha infância e pré-adolescência. A maior parte do trajeto de ida, eu faço pelo caminhódromo municipal, local que sequer existia nos meus idos nove anos de idade, mas onde hoje posso caminhar acompanhada de borboletas e versos. Foi ali que decidi que todos os dias no retorno para casa eu tentaria lembrar de pelo uma história vivida aqui e para isso decidi mudar o percurso. Quase sempre procuro passar por uma rua diferente, afinal cada uma delas guarda um segredo meu, uma brincadeira, um amiguinho, uma 'arte', uma parte de mim. Assim foi que eu sorri ao passar em frente à Casa da Amizade por lembrar das primeiras festinhas noturnas que frequentei, as junções da sétima série, as loucuras em parceria com a prima Cassiana, os primeiros beijos, a vergonha de dançar, as roupas estranhas que achamos lindas e os meninos bobinhos por quem sonhávamos.
Hoje mesmo, indo para academia (sim finalmente sai do sedentarismo!), passei pela famigerada rua do lazer. Ali eu cai meus melhores (ou piores, como quiserem) tombos, sejam eles de bicicleta, patins ou correndo mesmo. Ali eu tomava sorvete italiano na casinha da mônica, jogava vôlei e me escondia quando fugia da aula na 7ª série. Depois passei em frente à antiga casa da minha prima Cassiana, quantas 'artes' e brigas naquele lugar.
Passei pela minha primeira escola, quase igual ao que era antigamente não fosse pelos tons verdes que agora colorem suas paredes. Passei pelos trilhos, ou melhor pela subida dos trilhos e lembrei o sofrimento que era chegar ao topo de bicicleta e do quanto eu gostava de ler a placa que dizia: PARE, OLHE, ESCUTE.
Quando chego na casa da minha irmã penso que a rua Taquarembó nem existia naquela época, quanto mais a casa lilás de número 64.
São tantas lembranças que me deixam feliz todos os dias, me fazem esquecer por momentos da parte ruim do trabalho, da saudade da mãe, da solidão, pois os antigos amigos, lugares e aventuras me fazem companhia. Me deixo inundar por aquelas sensações juvenis, aqueles calores infantis e retorno para o caminho das borboletas.



E como não lembrar da música: “Eu voltei, pras coisas que eu deixei”.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Deixo assim

É incrível como tem certas coisas que você teima em saber, coisas que a curiosidade torna quase insanas quando são descobertas perdem o valor. Ou assustam, bate aquele arrependimento. às vezes é melhor a certeza do talvez, enquanto há uma mínima possibilidade de não ser verdade, quando ainda dá pra fantasiar que é uma ilusão da sua cabeça, falha de memória ou então um pesadelo que parece real.
A vida tem dessas coisas. Há certos momentos e sentimentos que são melhores subentendidos.
Não sei porque mas as pessoas acham que com a maturidade você tem o direito ou dever de saber de algumas coisas, na real, eu queria que todos soubessem que eu ainda prefiro a pureza das crianças. A inoscente ignorância dos pequenos, e guardo em mim o que um dia já fui porque para poucos eu ainda consigo o ser. Aquela menina meio nervosinha, mas cheia de meiguice e sonhos, a garotinha gorducha mas bem doidinha, sem vergonha, feliz! Para poucos, muitoo poucos, hoje não saberia dizer quem consegue despertar esse meu lado.
É por isso que algumas pessoas me ferem encerrando velhas ilusões, esclarecendo velhas dúvidas, sem eu nem mesmo perguntar. Eu sinceramente às vezes acredito que eu não sou daqui!
Deixo assim ficar subentendido...



"Pode até parecer fraqueza, pois que seja fraqueza então"

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Luz dos olhos

No meu último dia de viagem eu vi a cena que mais me encantou nesses 11 dias longe de casa.
Durante esse tempo meus olhos foram presenteados com a vista aérea da capital do país, com a beleza e inteligência da arquitetura do gênio Oscar Niemeyer.
Eu vi belos lugares, gente bonita, homens engravatados e mulheres bem vestidas. Vislumbrei o campo verdinho, lutando contra tantos dias sem chuva em Minas Gerais, vi uma cadelinha adotar quatro cãezinhos e os amar como se fossem seus. Vi uma filha sair mais uma vez de casa para tentar acertar os ponteiros da vida. Vi a beleza estonteante da Ópera de Arame, a histórica estrutura do museu ferroviário em Curitiba. Mas nada se compara a cena que me presenteou no retorno depois da prova.
O hotel ficava há vinte minutos do local onde realizei a prova do concurso (quem manda querer se hospedar no centro), e eu aguardava no terminal o segundo ônibus para completar o meu retorno, quando um casal - que a primeira vista me chamou atenção pelo estilo, ela com cabelo black power, colar de pedras e all star, e ele num estilo hip hop de vestir e andar, - passou por mim e me encantou pela simpatia, me abriram um sorriso, como um presente por eu estar ali no caminho deles. Por sorte os dois entraram no mesmo transporte que eu e sentaram-se a minha frente, naqueles bancos em que você fica de frente para o outro passageiro como se estivesse sentado à mesa com ele. Seria estranho, não fosse pela minha felicidade em vê-los ali, tão sorridentes e apaixonados. Mas o meu encanto por eles se deu mesmo quando percebi que se tratava de um casal de mudos, que se comunicavam através da língua dos sinais. Foi encantador perceber que mesmo com o que muitos chamariam de barreira, aquele casal se comunicava melhor do que muitos casais 'normais' por ai. Durante todo o trajeto eles conversaram e se entendiam muito bem, obrigada. Por tempo fiquei os observando, tentando entender sobre o que falavam, em vão é claro. Me senti envergonhada e tentei desviar o olhar, mas a luz dos olhos que unia os dois não me deixava fixar os olhos em outra paisagem se não a daquele lindo casal. Cheguei ao meu ponto final, assim como aquele era o ponto final da minha viagem, depois daquela cena eu queria congelar os olhos e pensar que a beleza está nos olhos de quem vê.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sem tradução

A julgar pelo número de posts que tenho feito ultimamente dá para perceber o meu estado de espírito. Eu não costumo postar nada aqui quando eu bem, quando estou feliz o meu tempo costuma estar esgotado e meus dias cheios demais para divagar sobre qualquer coisa.
Pois é, não estou bem. Sinto saudade, sinto falta, sinto dor, me sinto triste, vazia, sem esperança. Que triste dizer isso, com apenas 22 anos e é assim que me sinto, morta por dentro.
Sinto uma saudade que não sei exatamente do que é. Não é de alguém ou de algum momento. Talvez seja uma saudade de alguém que ainda não tive, de alguém que sempre quis ter. Não sei, mas eu sinto essa saudade. Todas as noites ela me dilacera sobre os meus lençóis tão engomadinhos pela minha mãe.
Todos os dias eu procuro não acordar, não por falta do que fazer, mas pelo mundo inteiro pra enfrentar.
Não estou reclamando da vida, apenas preciso dizer que não estou bem. Que por trás da carapuça bonitinha, alegre, que diz que está tudo bem, eu estou em ruínas. E faz tempo.
Eu sempre fui insatisfeita com a vida, dizia para mim que era melhor ser eternamente insatisfeita do que me acomodar. Ainda penso assim, mas estou cansada!
A vida só me dá trancos, só me derruba. Eu tenho conseguido me levantar, mas até quando?
Não posso dizer que estou sozinha nessa, de todas as possibilidades que tenho, 90% devo à minha família, amigos e pessoas queridas. Mas mesmo assim eu me sinto só.
Por isso, todas as noites enquanto essa angústia repleta de uma nostalgia do nada, de um passado que não tive, eu concluo que na verdade eu estou com saudade de ter um futuro. Saudade de ter alguém pra planejar, saudade de ter planos para mim. Aprendi com os tombos de 2010 a não fazer planos, e assim tem sido há meses. Sem planos, sem quedas. Mas isso tudo está me deixando louca, não consigo mais viver assim? Sem nenhuma perspectiva, sem um caminho.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Apenas batendo

Como diria Clarice Linspector "sou apenas um coração batendo no mundo", e apenas isso.
Mergulhada num mar de possibilidades e nenhuma certeza, eu sigo. Apenas sigo.
Talvez seja a falta do meu antidepressivo. Talvez seja a dieta. Talvez eu seja louca mesmo.
Só sei que eu não quero fazer nada. Preciso estudar mas não consigo. Preciso lutar mas já não encontro forças.
Sou só um coração, batendo e só. No meu mundo, no meu cenário imaginário. No meu quarto. No meu infinito particular.
Aqui me refugio das insanidades que me rodeiam. Da mania de falar da vida alheia que as pessoas têm na cidade. Aqui eu posso viajar, posso ler, posso sentir, posso vegetar. Renato Russo me entederia, "tenho quase certeza que eu não sou daqui".
Porém, não tranco as portas. Apenas as deixo encostadas. Talvez por medo de nunca mais conseguir as abrir e me libertar de tudo isso. Mas a verdade mesmo é que quero ser invadida. Quero que alguém me tome de mim, me leve embora, ou me mostre um caminho. Porque eu sinceramente não vejo um.
Caminhando sobre pedras pontiagudas eu  firo meus pés. Saltando nuvens nos meus sonhos eu firo meus ideiais. Vou brincando, vou andando, vou seguindo. Assim quando me perguntam como eu estou posso dizer que estou indo. Sigo em frente e só.
Houve um dia em que eu escrevi que de tanto não esperar nada da vida um dia ela me surpreende. Assim espero.
Não é só um emprego que eu quero, é vida! Preciso de espaço pra viver. Preciso de um pouco de dinheiro, preciso de oportunidades. Mas por enquanto me mantenho aqui.
Por enquanto sou apenas um coração batendo no mundo.




(pelo menos podia ser no mundo de alguém né)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mais um resgate do antigo blog

Por que ser diferente é bem normal
Gorda, baleia, taquara, quatro olhos, estranho... quem não teve um apelido pejorativo na infância ou na adolescência sinta-se um sortudo, as coisas são mais fáceis para você. As diferenças físicas ficam evidentes já nas séries primárias, e então a síndrome do patinho feio se instala nas vidas das crianças e parecem não ter sempre um final feliz.
Enquanto na fábula infantil a diferença faz a beleza, na vida real o final é bem diferente. Segundo um estudo publicado na revista Superinteressante de Abril/08 realizado ainda nos anos 1990 os feios ganham bem menos que o ‘bonitos’, ou seja, ser bonito facilita a vida. Os homens feios ganham em média 9% menos que os bonitos, para as mulheres feias o desprezo parece menor, elas ganham em média 6% menos, mas na China a feiúra feminina não tem perdão e a diferença entre os salários chega a 31% menos para as feias.
Mas e quem pode definir quem é feio ou bonito? A relatividade da beleza é tão grande quanto a ignorância do preconceito diante das diferenças. Se o conteúdo não depende da embalagem é pela qualidade (nesse caso qualificação) que ele deve valer mais ou menos.
Ser diferente mudou de nome, é feiúra. Não encaixar-se no estereotipo de beleza estabelecido pela sociedade muitas vezes parece crime e causa muita depressão, até mesmo nas crianças. Por isso eu que já fui a gordinha da turma venho em defesa dos ‘feios’. Abaixo a ditadura das medidas, abaixo ao preconceito, abaixo ao desrespeito.
“Feios” as mudanças devem vir de dentro para fora. Encare suas diferenças com a serenidade e a normalidade que quer ser visto, “porque ser diferente é bem normal”.

Velho novo post - resgate do meu primeiro blog


Queria que assim fossem todos os meus dias
Que eu falasse as coisas mais simples e menos intencionais
Para todas as pessoas que amo, e que elas soubessem do lugar que tem em meu coração
Queria que ao dizer essas palavras, despertasse sorrisos, queria trazer paz aos corações agitados, as mentes angustiadas, e conforto aos desesperados.
Queria que meus dias fossem ardentes como um soluço sem lágrimas, mas que neles lágrimas de tristeza não existissem.
Queria que fossem eternos como o amor que sinto pela minha vida
Não desejo que em meus dias não houvessem contratempos e erros, pois sem eles eu não cresceria.
Queria apenas ter tempo e oportunidade para concertar todos os equívocos, evoluir diante de todas as intempéries.
Queria que os dias de minha vida tivessem a beleza das flores quase sem perfume
e que fossem puros como a chama em que se consomem os diamantes mais límpidos,
que fossem repletos de uma paixão enlouquecedora, que eu conseguisse apaixonar todos esses dias a mesma pessoa.
E no fim dos meus dias queria que eles fossem como os de minha infância, onde via tudo com olhos pequenos e sonhadores e com disposição para viver apenas o presente sem pensar no amanhã.
Duane Löblein

Medo

Estava aqui pensando sobre o medo. Na minha vida o medo sempre foi muito relativo. O primeiro do qual me lembro era o medo de dormir com a porta do quarto aberta e acordar no meio da noite com um monstro me olhando. Não sei se por medo, mas eu ainda não consigo dormir com a porta aberta.
Quando se é criança até o medo é mais simples, eu tinha medo da surra depois de alguma peripécia na rua, medo dos filmes do Chuck, o Boneco Assassino. Eu temia ficar sozinha e tinha pesadelos com a minha casa sendo esmagada por um gigante.
Depois lembro de como surgiu o meu pavor, sim não é medo, é PAVOR! de aranhas. Quem me conhece sabe que foi porque uma noite, quando eu tinha 6 anos, eu peguei uma caranguejeira (pequena) na mão achando que era o pompom do meu moletom que eu havia perdido. Desde então eu fiquei de certa forma traumatizada com elas. Durante anooos eu tive pesadelos com aranhas e fazia minha irmã mais velha segurar minha mão até o sono me derrubar mais uma vez.
Hoje eu tenho saudade desses velhos medos. Saudade de temer a bronca pela nota baixa no boletim, o castigo por não obedecer o pai e a mãe. Agora meus medos são bem mais fortes, assustadores até. Eu tinha medo de ficar desempregada depois da faculdade, não fiquei. Depois tinha medo de perder o emprego, perdi. Tenho medo de não me reencontrar depois de me perder tantas vezes. Medo de sentir de novo as mesmas dores, de ter que curar as mesmas feridas.
Sem metáforas acredito muito na minha coragem de vencer esses medos. A minha estranha relação com eles é que me surpreende. Eu tenho sim pavor de aranhas, não consigo pensar na possibilidade de uma aranha encostar em mim, mas eu não chamo ninguém para matá-las, eu mesma o faço. Já se um dia uma cobra aparecer na minha frente, eu vou certamente sair correndo e chamar alguém para me salvar. E eu nem tenho pavor delas. Acho que quanto mais medo eu sinto, mais coragem eu tenho pra enfrentar.
Lembro dos filmes de terror e suspense. Os que tinham fantasmas me faziam ter pesadelos, mas mesmo assim eu os assistia. Tenho pavor de altura, mas os primeiros brinquedos que eu vou num parque de diversões são os que me elevam há vários metros do chão. Talvez eu goste da adrenalina, de sentir as pernas tremendo, do suor frio. Não sei, mas eu enfrento.
Ultimamente meu medo é ter que morar com meus pais por mais tempo do que eu suportaria sem surtar, e esse tempo é curto. Não me agrada a ideia de passar meu aniversário aqui, desempregada e morando com eles. Ainda bem que ainda faltam dois meses!