terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Luz dos olhos

No meu último dia de viagem eu vi a cena que mais me encantou nesses 11 dias longe de casa.
Durante esse tempo meus olhos foram presenteados com a vista aérea da capital do país, com a beleza e inteligência da arquitetura do gênio Oscar Niemeyer.
Eu vi belos lugares, gente bonita, homens engravatados e mulheres bem vestidas. Vislumbrei o campo verdinho, lutando contra tantos dias sem chuva em Minas Gerais, vi uma cadelinha adotar quatro cãezinhos e os amar como se fossem seus. Vi uma filha sair mais uma vez de casa para tentar acertar os ponteiros da vida. Vi a beleza estonteante da Ópera de Arame, a histórica estrutura do museu ferroviário em Curitiba. Mas nada se compara a cena que me presenteou no retorno depois da prova.
O hotel ficava há vinte minutos do local onde realizei a prova do concurso (quem manda querer se hospedar no centro), e eu aguardava no terminal o segundo ônibus para completar o meu retorno, quando um casal - que a primeira vista me chamou atenção pelo estilo, ela com cabelo black power, colar de pedras e all star, e ele num estilo hip hop de vestir e andar, - passou por mim e me encantou pela simpatia, me abriram um sorriso, como um presente por eu estar ali no caminho deles. Por sorte os dois entraram no mesmo transporte que eu e sentaram-se a minha frente, naqueles bancos em que você fica de frente para o outro passageiro como se estivesse sentado à mesa com ele. Seria estranho, não fosse pela minha felicidade em vê-los ali, tão sorridentes e apaixonados. Mas o meu encanto por eles se deu mesmo quando percebi que se tratava de um casal de mudos, que se comunicavam através da língua dos sinais. Foi encantador perceber que mesmo com o que muitos chamariam de barreira, aquele casal se comunicava melhor do que muitos casais 'normais' por ai. Durante todo o trajeto eles conversaram e se entendiam muito bem, obrigada. Por tempo fiquei os observando, tentando entender sobre o que falavam, em vão é claro. Me senti envergonhada e tentei desviar o olhar, mas a luz dos olhos que unia os dois não me deixava fixar os olhos em outra paisagem se não a daquele lindo casal. Cheguei ao meu ponto final, assim como aquele era o ponto final da minha viagem, depois daquela cena eu queria congelar os olhos e pensar que a beleza está nos olhos de quem vê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário